Associada da ABG e participante do Núcleo Temático de Relações Étnico-raciais, Andrea Nascimento, nos conta sobre a importância deste dia para a abordagem e nos convida a refletir
O 1º Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas ocorreu em 1992, na República Dominicana, quando grupos de mulheres negras da América Latina e Caribe se reuniram e destacaram os efeitos opressores do machismo e do racismo, organizando-se para combatê-los. Essa rede de mulheres lutou para que a ONU reconhecesse o dia 25 de julho como Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha no mesmo ano. E, aqui no Brasil, desde 2014, a data também faz referência a Tereza de Benguela, líder do quilombo Quariterê, do século 18, que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravização.
Representatividade feminina negra, assim como o racismo, a misoginia, a transfobia, a lesbofobia, e o machismo enfrentado por essas mulheres, as consequências dos preconceitos e as condições da vida das mulheres negras dessas regiões, são analisados e debatidos em programações especiais, e em uma série de atividades, realizadas nesse dia em todo mundo.
Quantas mulheres rappers, sambistas, escritoras você ouve ou lê que costumam abordar as questões de gêneros em suas narrativas? Quantas mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas que estão entre a intelectualidade e a invisibilidade, você consegue citar? Vamos exercitar (vai ficar melhor se você tiver lido de verdade, do começo ao fim: um poema, um um livro, um artigo em jornal ou revista, seguir nas redes sociais, conhecer uma música…)?
Eu começo tendo como referência o livro Quarto de despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Carolina era uma escritora negra que apresentava relatos sobre o cotidiano periférico no qual viveu, contextos que fizeram sua escrita ser reconhecida internacionalmente e traduzida em mais de 10 países. Trago também Lélia Gonzalez (1935-1994), mineira de Beagá (Belo Horizonte, MG) como eu, e uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado.
Como mulher negra enfrentou muitos percalços para estar na universidade e obter com dois cursos superiores, mestrado e doutorado, onde problematizou, principalmente, o feminismo negro. Lélia foi uma das pioneiras no Brasil a fazer a crítica ao feminismo sob uma ótica racial. A matriz do feminismo era branco e eurocêntrico, tendo como agenda política a realidade dessas mulheres. Gonçalez enfatizava a urgência de um feminismo negro que problematizasse a pluralidade de questões na vida da mulher negra brasileira. Deste modo, celebrar o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, enfatizamos a mulher quilombola e negra brasileira. E celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha por nos reconhecermos no âmago da mesma luta. E aí, quem você conhece?
Andrea dos Santos Nascimento
Professora Dra. Adjunta do Departamento de Psicologia – CCHN – UFES
Associada da ABG e participante do Núcleo Temático de Relações Étnico-raciais