Continuando nossa semana da psicóloga, convidamos dessa vez a Gestalt-terapeuta, Flávia Silva para falar de um tema que ela traz como horizonte de trabalho e luta: a despatologização da sexualidade.
Os tempos são sombrios e todo cuidado é pouco. Por esse motivo, não podemos permitir que a psicologia seja novamente uma ferramenta de validação de processos de discriminação, preconceito ou segregação, como prevê nosso código de ética. Dessa forma toda, comunidade deve lutar contra projetos como o chamado Cura Gay ou Terapia de reorientação Sexual. É fundamental reafirmar o óbvio: não há cura para o que não é doença. A fluidez da expressão de nossa orientação de desejo é algo singular e de ordem íntima. Nosso desejo, a maneira com a qual gesticulamos e marcamos nossa existência, cada vez mais, vem se desvinculando dos rótulos culturais, e com isso ultrapassa a verdadeira “ideologia de gênero”: o binarismo homem x mulher.
Dessa forma, a psicologia precisa se posicionar contra a patologização da sexualidade e suas formas de expressão, não permitindo que a travestilidade e a transexualidade continuem ocupando o lugar que um dia foi da homossexualidade nos compêndios de medicina. A cura ou reorientação devem ser voltadas a esta sociedade conservadora que se pauta na cisnormatividade, sociedade esta que deve se reorientar e se livrar de amarras binárias e fôrmas sociais, culturais e sobretudo corporais.
Iniciativas como os núcleos temáticos da ABG, em espacial Relações de Gênero e diversidade sexual são fundamentais para uma clínica ético-política. É imprescindível que a comunidade gestáltica se mantenha trilhando os caminhos de seus fundadores, um caminho ético, político e engajado socio-culturalmente, acompanhando a fluidez temporal de nossa existência.