Semana do Psicólogo e da Promoção de cuidado em saúde mental – 27/08 – Dia 05

Encerrando as postagens da semana em alusão ao dia das(os)(us) psicólogas(os)(es), um texto escrito pela Gestalt-terapeuta Mariama Furtado

A Reforma Psiquiátrica brasileira foi profundamente inspirada pela experiência de desinstitucionalização italiana, notadamente pelo pensamento de Franco Basaglia, que recebeu influência da perspectiva fenomenológica. Igualmente a experiência de Laing e Cooper, com a antipsiquiatria inglesa, trouxe contribuições de cunho fenomenológico-existencial para o movimento da luta antimanicomial e da reforma na atenção à saúde mental brasileira, embora muitas pessoas ligadas ao movimento não tenham tanta clareza a este respeito.


A influência da fenomenologia no pensamento de Basaglia consistiu, sobretudo, no destaque de colocar a doença mental entre parênteses (epokhé) para que se pudesse alcançar o fenômeno em si, neste caso, o sofrimento do sujeito. Uma mudança aparentemente sutil, porém que traz consequências significativas para a prática clínica. Uma delas é o posicionamento do sujeito no centro do estudo psicopatológico e também da atenção à saúde mental.


Encontrando profunda afinidade com o pensamento de Franco Basaglia, nós na Gestalt-terapia também compreendemos que o sintoma não é o foco do cuidado, mas o indivíduo como um todo, sendo necessário ir além da doença para que seja possível trabalhar com os processos que as produzem. Tudo no ser humano é profundo em significados, isso quer dizer que a compreensão dos processos psicopatológicos deve priorizar o olhar sobre o mundo vivido da pessoa em adoecimento, e não as manifestações consideradas patológicas isoladamente. Neste sentido, a tradição fenomenológica aponta então para a psicopatologia como estudo dos “modos-de-ser”, muitas vezes adoecidos por se configurarem como restrição de possibilidade a uma existência que deveria ser abertura.


Por afinidade histórica e epistemológica, entendemos que os fundamentos da clínica gestáltica têm muito a contribuir com o movimento da luta antimanicomial, no sentido de propor uma clínica ampliada capaz de atuar no âmbito da atenção psicossocial desconstruindo estigmas sobre o sofrimento psíquico e promovendo o cuidado em saúde mental.

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